Ouguela (Alentejo, Portugal) em baixo; Alburquerque (Badajoz, Espanha) ao fundo.

terça-feira, 21 de abril de 2015

Duas letras de Rui Veloso

Os saltimbancos, fotografia de Robert Grant


Os tempos de que fala o cantor português Rui Veloso já ficaram para trás. É pena, não contamos com a música, mas não faz mal, o que nos importa é a letra. Fica claro o contraste entre o que queria o Rui Veloso menino antes e depois das palavras da professora?

Por outro lado: será que alguém se anima a contar o que quer ser quando for grande?



O QUE EU QUERO SER QUANDO FOR GRANDE

Andava eu na quarta classe e fiz uma redacção
sobre o que eu queria ser um dia quando crescesse

Quero ser um marinheiro, sulcar o azul do mar
vaguear de porto em porto até um dia me cansar
quero ser um saltimbanco, saber truques e cantigas
ser um dos que sobe ao palco e encanta as raparigas

A sessôra chamou-me ao quadro e deixou-me descomposto
Ó menino atolambado, que gracinha de mau gosto

Lá fiz outra redacção, quero ser um funcionário
ser zeloso, ter patrão, deitar cedo e ter horário
ser um barquinho apagado sem prazer em navegar
humilde, bem comportado, sem fazer ondas no mar

A sessôra bateu palmas e deu-me muitos louvores
apontou-me como exemplo e passou-me com quinze valores


Mais uma canção de Rui Veloso, mas ficamos com a letra. Há um link para ouvir a canção.


É TRISTE SER-SE CRESCIDO

É triste ser-se crescido
E não ter mais rédea solta
Ir descobrir o sentido
Do mundo à nossa volta

É triste dizer adeus
Aos nossos velhos cantinhos
E ouvir a nossa mãe
A mandar-nos ir sózinhos

Triste é trocar os calções
Por colarinho apertado
Ter cartão de identidade
Já com outro penteado

É triste ser responsável
Guardar horas na cabeça
Ter tantas obrigações
Que fazem andar depressa

Ai como é bom recordar
Esse tempo de criança
Às vezes queria parar
Crescer muito também cansa.


Aqui pode ser ouvida a canção.